Olho nos olhos de um cachorro na rua e subitamente vejo à mim mesmo. Me vejo bebê, com grandes olhos redondos, cheios de uma pureza sem igual. Me vejo criança, sapeca, os olhos sorrindo com naturalidade. Me vejo feliz, brincando, correndo. Me vejo triste, esperando minha mãe voltar para casa.
Olho para o rosto do cão. Molhado, sujo, machucado. Falhas nos pelos. Me abaixo e estendo minha mão. Ele vem para mim, pede carinho, abana o rabo. Toco sua cabeça de leve. Pelos molhados e sujos se grudam aos meus dedos. Ele levanta os olhos para mim, e me vejo novamente nos seus olhos.
Vejo a mim, sozinho, esperando por alguém que nunca vai chegar. Vejo a mim, com fome, catando comida por lugares abandonados. Vejo a mim, machucado, sem ninguém para me cuidar. Vejo a mim, molhado, sem nada para me secar.
Me ajoelho e abraço o cão. Ele se deixa abraçar, se aconchega, dá uma lambida na minha orelha. Choro. Juro nunca mais abandoná-lo.
Sei que ele nunca me abandonará.
27/04/13
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