domingo, 7 de agosto de 2011

muito tempo

Bocejei longamente, me espreguiçando. Era mais tarde do que eu imaginava. Não que eu tivesse problemas em dormir tarde, mas eu tinha que acordar em cinco horas. Cocei a cabeça e fui até a janela, fechar as cortinas.
Um movimento chamou minha atenção. Era tarde, sim, mas tinha alguém na rua. Abri o vidro, tentando espiar. Estava realmente escuro, e a pessoa estava atrás do poste, perto da esquina, onde não era iluminado. Passei a mão pelo cabelo, tentando pensar. Fosse quem fosse, agora estava totalmente escondido da luz.
Dei um pulo quando meu celular tocou. Bati a cabeça no teto baixo e xinguei. Peguei o aparelho rapidamente e o atendi. A voz do outro lado da linha me chocou. Veio carregada de lembranças, e dor. Por que raios estava me importunando agora?
Havíamos nos conhecido na escola quando éramos bem novos. Ela era encantadora e gostava de mim. E eu era totalmente caído por ela, sempre fui. Começamos a namorar no ensino médio, e esses foram os melhores dias da minha vida. Mas, como dizem por aí, o que é bom dura pouco.
Foi um telefonema simples: venha aqui fora, foi tudo que ela falou. Olhei pela janela, chegando a conclusão de que era ela lá fora. Pareceu notar meu olhar, pois deu um passo para embaixo do poste, ficando subitamente iluminada. Usava um casaco de couro fechado, o casaco que eu havia lhe dado em certo momento do nosso relacionamento. Os cabelos louros estavam soltos, parecendo uma nuvem ao redor da cabeça.
Suspirei profundamente, encostando a cabeça na janela. Não queria que ela estivesse lá. Me afastei da janela e coloquei um casaco. Saí da casa em silêncio, a cabeça baixa. Não podia imaginar o momento em que me veria cara a cara com ela novamente.
Foi um momento que não demorou a chegar. Ela havia andado até mim no momento em que eu abrira a porta, e agora estava ali, me beijando tão suavemente.
- Me desculpe – ela falou, quando finalmente se afastou. Eu estava atônito. Mais memórias me voltavam com força. Um amigo da família, sua mãe me ligando preocupada. A separação aos gritos, os pedidos repetidos de perdão. O desespero, os dias sem sair do quarto.
A resposta era simples. Eu não tinha dúvidas. Por que era tão difícil falar agora? Respirei profundamente, sem tirar os olhos dos dela. Eram azuis. Magnífica e incrivelmente azuis, como duas pedras de gelo. Iguais ao seu coração. Eu duvidava que em algum momento ela tenha sentido algo por mim.
- Não – sussurrei, tirando as mãos dela dos meus ombros e me afastando pesadamente. Eu a amei um dia. Mas foi um dia há muito tempo atrás.

9/2/11

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