Bocejei longamente, me espreguiçando. Era mais tarde do que eu imaginava. Não que eu tivesse problemas em dormir tarde, mas eu tinha que acordar em cinco horas. Cocei a cabeça e fui até a janela, fechar as cortinas.
Um movimento chamou minha atenção. Era tarde, sim, mas tinha alguém na rua. Abri o vidro, tentando espiar. Estava realmente escuro, e a pessoa estava atrás do poste, perto da esquina, onde não era iluminado. Passei a mão pelo cabelo, tentando pensar. Fosse quem fosse, agora estava totalmente escondido da luz.
Dei um pulo quando meu celular tocou. Bati a cabeça no teto baixo e xinguei. Peguei o aparelho rapidamente e o atendi. A voz do outro lado da linha me chocou. Veio carregada de lembranças, e dor. Por que raios estava me importunando agora?
Havíamos nos conhecido na escola quando éramos bem novos. Ela era encantadora e gostava de mim. E eu era totalmente caído por ela, sempre fui. Começamos a namorar no ensino médio, e esses foram os melhores dias da minha vida. Mas, como dizem por aí, o que é bom dura pouco.
Foi um telefonema simples: venha aqui fora, foi tudo que ela falou. Olhei pela janela, chegando a conclusão de que era ela lá fora. Pareceu notar meu olhar, pois deu um passo para embaixo do poste, ficando subitamente iluminada. Usava um casaco de couro fechado, o casaco que eu havia lhe dado em certo momento do nosso relacionamento. Os cabelos louros estavam soltos, parecendo uma nuvem ao redor da cabeça.
Suspirei profundamente, encostando a cabeça na janela. Não queria que ela estivesse lá. Me afastei da janela e coloquei um casaco. Saí da casa em silêncio, a cabeça baixa. Não podia imaginar o momento em que me veria cara a cara com ela novamente.
Foi um momento que não demorou a chegar. Ela havia andado até mim no momento em que eu abrira a porta, e agora estava ali, me beijando tão suavemente.
- Me desculpe – ela falou, quando finalmente se afastou. Eu estava atônito. Mais memórias me voltavam com força. Um amigo da família, sua mãe me ligando preocupada. A separação aos gritos, os pedidos repetidos de perdão. O desespero, os dias sem sair do quarto.
A resposta era simples. Eu não tinha dúvidas. Por que era tão difícil falar agora? Respirei profundamente, sem tirar os olhos dos dela. Eram azuis. Magnífica e incrivelmente azuis, como duas pedras de gelo. Iguais ao seu coração. Eu duvidava que em algum momento ela tenha sentido algo por mim.
- Não – sussurrei, tirando as mãos dela dos meus ombros e me afastando pesadamente. Eu a amei um dia. Mas foi um dia há muito tempo atrás.
9/2/11
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