terça-feira, 21 de junho de 2011

ajudante

O vento fustigava seus cabelos negros. Ela andava rapidamente, abraçando a si mesma com força. Estava molhada, da chuva contínua, e parecia sentir frio. Mesmo a distância, eu podia ver que ela estava abatida, e seus olhos estavam vermelhos de chorar.
Bebi mais um gole do meu chocolate quente quando ela entrou no Café. Parecia ainda pior de perto. Com uma voz rouca, pediu um capuccino e sentou-se na mesa vizinha. Desviei os olhos da garota e voltei a fazer minhas palavras-cruzadas.
Eu sabia que era ela. Em breve, ela pediria minha ajuda. Não que eu gostasse de ajudar. Era involuntário. Eu tinha essa coisa, meio especial. Ouvia pedidos de ajuda. Sabia onde deveria estar e com quem falar. Estava cansada disso, mas não tinha escolha.
- Ô moça – ela me chamou. Desviei o olhar da revistinha e a encarei, impassível. Ela tinha um olhar triste, cansado. – Você tem fogo? – me mostrou uma caixa de cigarros.
- Sim – respondi baixinho, pegando um isqueiro na minha bolsa e o alcancei para ela.
- Obrigada – ela falou, acendendo o cigarro. Tinha as mãos trêmulas, com dedos finos e longos. Talvez ela tocasse piano.
- Você está bem? – perguntei. Ela fez que sim com a cabeça, mas então, sem mais nem menos, desabou chorando. Não esbocei reação. Me movi apenas para lhe entregar um guardanapo. Ela limpou os olhos com delicadeza e deu uma tragada no cigarro.
- Obrigada – ela disse de novo. Sorri de leve.
- Não sei o seu problema – falei baixinho, sabendo que era uma mentira. Eu sabia sim. Olhava nos olhos dela e via exatamente o que tinha acontecido. Nada muito complexo, mas extremamente destrutivo. Havia brigado com o noivo. Para alguma outra pessoa, eu não precisaria dar conselhos. Mas ela estava por um fio. – Mas posso lhe dizer isso: você é perfeita na sua imperfeição. Pense nisso – me levantei lentamente e peguei uma rosa da minha bolsa. – Olhe para essa flor. Você enxerga suas pétalas viçosas. Se uma rosa se olhasse no espelho, veria apenas seus espinhos. – Larguei a flor na mesa da mulher. Ela riu de leve e fechou os olhos, dando mais uma tragada. Quando os abriu novamente, eu já tinha sumido.
Naquele dia, perdi uma revista de palavras cruzadas.

1/5/11

Nenhum comentário: