quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

última corrida (joia, in memorian)

Ia embora sem olhar para trás, já não me aguentava mais de pé. Porém, um vulto cinzento chamou minha atenção, destacado contra o fundo verde. Mudei de direção e me sentei no chão, pouco ligando para a sujeira.
- E aí, Joia? - falei, passando a mão em seu flanco cinzento. Ela me olhou, remelenta. Ri baixinho. - Deixa eu limpar essas cacas. - passei os dedos com delicadeza, até tirar todos os resquícios de sujeira de seus olhinhos escuros. Fiquei sentada por alguns minutos, apreciando o final da tarde. Finalmente me levantei - Tá, bebê, agora eu vou embora. - voltei a andar, na direção da parada de ônibus. Um ruído fraco me chama a atenção. Viro-me para trás, e a cadela me seguia em passinhos rápidos. Sorri e chamei-a, e ela sacudiu o toco do rabo e apressou o passo.
Ela parou ao meu lado, pedindo por carinho. Passei a mão na sua cabeça algumas vezes, e voltei a andar, ela sempre atrás de mim, cada vez mais devagar. Continuei andando, sem me preocupar com ela. Se ela quisesse, viria atrás de mim. Mas, novamente, o tec-tec das unhas raspando o chão me chamou a atenção. E mais uma vez me virei para trás, apenas para ver um risco cinzento correndo, sorrindo para mim, toda feliz. Não pude me conter, ri alto e me abaixei para abraçá-la.
Parou de me seguir pouco antes de eu chegar na parada. Não me importei muito na hora, ela estaria lá amanhã, no mesmo horário, me esperando. Ela sempre estava lá.
Não dessa vez. O mundo não funciona como planejado.

05/12/12

Vai em paz, Joia.

Patas Dadas para mudar o mundo.

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