quarta-feira, 19 de outubro de 2011

náiade (parte 1)

Eu não gostava do bosque.
Era um lugar escuro e deprimente, com árvores cujos troncos eram tão grossos que nem três pessoas poderiam abraçá-los. O ar era úmido e fresco, com um leve cheiro de terra molhada e folhas em decomposição. Só havia um único lugar no bosque que eu gostava. Era lá onde eu sempre ficava quando era obrigado a acampar.
Era um pequeno lago. Dependendo do dia, era possível enxergar o fundo na beira, mas na maioria das vezes ele estava tão escuro que a única coisa que eu via era o meu reflexo. O lago estava escuro esse dia. Eu era uma criança ainda, acho que entre oito e nove anos. Eu mexia na água com um pequeno graveto, jogando algumas pedras, quando uma ondulação me assustou.
Me levantei rapidamente, cambaleando dois passos para trás. A ondulação se repetiu, e eu, curioso, me aproximei. A água do lago estava parada como um vidro, mas algo tinha mudado. Tinha algo na água.
Prendi a respiração. Seja lá o que fosse, não era humano. Não sabia nem se era animal. Não havia bolhas de ar subindo. Não podia ser um tronco também. Não havia nada em cima da água. Cutuquei a beira da água com a bota. Nada aconteceu. Eu estava começando a achar que não tinha sido nada quando eu vi dois olhos flutuando.
Eram de um azul magnífico. Não consegui defini-lo. Não era claro nem escuro, apenas azul, grandes e inocentes. O assustador era que, onde devia ser branco, era negro. Só percebi que estava gritando quando algo pulou da água e tapou minha boca. A garota, porque era uma garota, tinha a minha altura, provavelmente a minha idade, e era absolutamente linda. Sua pele era clara, quase iridescente, e meio azulada. Seus cabelos eram longos e emaranhados, e verdes. Havia algas enroladas neles, meio que os trançando. Seu nariz era pequeno e arrebitado e a boca era um tom levemente mais escuro que a pele, parecida com um botão de rosa.
- Não grite – ela pediu com uma voz de soprano. Eu arregalei meus olhos e fiz que sim com a cabeça. Ela me soltou lentamente, sem piscar. Sua pele parecia translúcida de perto. Algumas de suas veias eram brancas, destacadas na pele azulada. Ela também tinha pequenas guelras no pescoço. Estava totalmente nua, mas eu era uma criança e isso nada importava para mim. Percebi que uma fina membrana ligava seus dedos. Onde ela me tocou, fiquei molhado. Ela tinha saído de dentro do lago, é claro, mas tinha certeza de que mesmo que não fosse assim, ela continuaria sendo úmida. Como um sapo.
- O que é você? – sussurrei, tentando recuar. Ela percebeu meu movimento e se mexeu, indo para trás até ter os tornozelos cobertos pela água. Suas guelras pulsaram duas vezes antes dela responder.
- Uma Náiade. – falou, e sua voz reverberou no ar, parecendo brilhar. – Mais especificamente, uma limnátide. Uma ninfa dos lagos. – todas as palavras eram novas para mim, e isso me deu mais medo. Ela ergueu a mão para mim, sua boca se abrindo num ‘O’ perfeito. – Não vou fazer mal a você. Só se você tentar entrar no meu lago. Eu tenho de protegê-lo. Meu nome é Despina – ela adicionou suavemente.
- Eu sou Dominic – falei em voz baixa. Ela abaixou a cabeça, me observando atentamente. O negro nos seus olhos me assustava. Eu queria sair correndo. Mas, enquanto ela me olhava, seus lábios finos se repuxaram em um sorriso tímido.

8/1/11
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Primeira parte de um novo projeto meu, um pouco mais longo :D
'náiade' é só o título provisório, vou mudar assim que achar um decente...

2 comentários:

Carol Bueno disse...

incrivel juju *-*

Bruno Antonelli disse...

Curtiii *-*

Mas se pretende fazer deste um projeto mais longo, poderia trabalhar mais toda a cena da primeira aparição da náiade, se bem que enrolar muito também não é uma boa, vou esperar o segundo texto antes de opinar~ ^^"

Mas curti mesmo *-*